quinta-feira, 3 de setembro de 2015

VOZES LIVRES SOBRE TRALHAS

Bruna Obadowski

Pensar a cidade, além de vivenciar suas realizações do quotidiano é uma prática não condicinada ao nosso corpo, não via de regra. Intuitivamente e ainda, automaticamente estamos condicionados a viver os sentidos da cidade e os sentidos que ela nos proporciona de modo automatico, sem transceder muitos caminhos e muitas possibilidades que ela pode nos proporcionar.
Foi assim que, por muitos meses passamos pelos diversos desvios pautados pelas obras de adequção urbana esplhados pela cidade em virtude da copa. Desvios de percurso, de tempo, desvios de objetivos e também desvios na vida. Vidas transformadas por desvios do quotidiano.
Foram meses de atravessamentos, de perspectivas e também de transformação da estética da cidade. Foi experimento e experiência. O corpo que se fazia presente todos os dias em meio ao caos lembra-se diariamente da estrutura quebrada e transformada em rasuras. Essas rasuras estão na memória, mas tmabém estão , em diversas formas de registro, como em fotos, em vídeos e em textos.
Aqui abro um parenteses para dar ênfase ao registro dessas rasuras sofridas pela cidade e que, de alguma forma está viva na nossa memória fotográfica e de forma pálpavel através de fotos. Isso é latente e é também um nó que não deixa passar os questionamentos que envolvem todas as transformações resultado das obras. As fotos aqui desempenham uma função totalmente compreensivel e essencial neste processo. É além do registro imagético, a memória viva de todas transformaçoes sofridas pela cidade. É a passagem da imagem para a revolta social e individual. É além de regitro, elemento de percepção, de sensibilidade e arte.
Quando pensamos na cidade e nas obras sofridas por ela, o VLT é uma experiência que, de forma  intima e, em um segundo momento coletiva que nos remete à sensação de sonho perdido. As razuras foram em vão e as imagens reafirmam essa sensação, essa realidade. Talvez fosse utopia que tudo funcionasse como o planejado. Que tudo funcionasse. Participamos ativamente de um momento de transformação, de intervenção no quotidiano, de atravessamentos na vida urbana, na vida pessoal e por vezes no querer íntimo de uma política para um transporte público que funcionasse de fato. Éramos até então vozes esperançosas à espera de trilhos.
Estruturalemente falando, quebrou-se a organização social dos sujeitos, e  se pensarmos no sentido lógico desembocamos num grande celeiro da poética, a poética do acontecimento. Tudo isso pôs-se reinventado numa nova lógica social, estética e também moral. Esse foi o nosso legado.
O movimento de descontração e, principalmente experimentação veio em forma de intervenção e reinvindicação. Ironicamente questionamentos as rupturas causadas e deixadas pelas obras inacabadas. 
O nosso movimento “VOZES LIVRES SOBRE TRALHAS” emerge em meio a zona de catástrofe fazendo muitas vezes um paralelo entre política e arte, desconsiderando que há dicotomia entre arte e vida. A reivindicação ética foi além de tudo, contra o esquecimento do horror perpetuado coletivamente contra nós.
Vivemos naquele momento realizações do cotidiano humano, por meio da prática artística e da tentativa da arte em abrir caminhos e possibilidades a partir do mundo ja construindo, experimentando o real e readequando estruturas ja existentes para fazer arte, para ironizar, protestar, questionar e pensarmos quantas possibilidades cabia a este espaço e que, de alguma forma efetuam ligações e colocam em contato diferentes níveis de realidade.
Praticamos de alguma forma a Estética Relacional, que nos implica ser para além do ser, tanto na ética como nas interações humanas e que neste momento coube colocar a ética antes do conhecimento e também a ética em forma de arte. Nós sofremos uma transformação e tamém transformamos. Saimos da observação externa nos iserimos coletivamente. Colaboramos uns com os outros, integramos, colaboramos, criamos  uma comunidade com carácter temporário ou utópico, abrimos para todos e intervimos nas obras malacabadas.
Tudo foi reinventado. As ruas serviram de desvios e depois não mais. As obras inacabadas viraram grandes estruturas sem poder social algum. Sofremos desvios momentâneos e depois nos readequamos. Tudo isso em meses, em um gesto de preparação para a copa do mundo, em um gesto de preparação para o caos.
            O não dito está presente. Está nas obras, está na revolta, está no caos. Agora em forma de intervenção, em forma de fotos, em forma de arte.

Referência:


BOURRIAUD, N. Estética relacional. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 151 p.

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