Bruna Obadowski
Pensar a cidade, além de vivenciar suas realizações do quotidiano é uma prática não condicinada ao nosso corpo, não via de regra. Intuitivamente e ainda, automaticamente estamos condicionados a viver os sentidos da cidade e os sentidos que ela nos proporciona de modo automatico, sem transceder muitos caminhos e muitas possibilidades que ela pode nos proporcionar.
Foi assim que, por muitos meses passamos pelos diversos
desvios pautados pelas obras de adequção urbana esplhados pela cidade em
virtude da copa. Desvios de percurso, de tempo, desvios de objetivos e também
desvios na vida. Vidas transformadas por desvios do quotidiano.
Foram meses de atravessamentos, de perspectivas e também
de transformação da estética da cidade. Foi experimento e experiência. O corpo
que se fazia presente todos os dias em meio ao caos lembra-se diariamente da
estrutura quebrada e transformada em rasuras. Essas rasuras estão na memória,
mas tmabém estão , em diversas formas de registro, como em fotos, em vídeos e
em textos.
Aqui abro um parenteses para dar ênfase ao registro
dessas rasuras sofridas pela cidade e que, de alguma forma está viva na nossa
memória fotográfica e de forma pálpavel através de fotos. Isso é latente e é
também um nó que não deixa passar os questionamentos que envolvem todas as
transformações resultado das obras. As fotos aqui desempenham uma função
totalmente compreensivel e essencial neste processo. É além do registro
imagético, a memória viva de todas transformaçoes sofridas pela cidade. É a
passagem da imagem para a revolta social e individual. É além de regitro, elemento
de percepção, de sensibilidade e arte.
Quando pensamos na cidade e nas obras sofridas por ela, o
VLT é uma experiência que, de forma
intima e, em um segundo momento coletiva que nos remete à sensação de
sonho perdido. As razuras foram em vão e as imagens reafirmam essa sensação,
essa realidade. Talvez fosse utopia que tudo funcionasse como o planejado. Que
tudo funcionasse. Participamos ativamente de um momento de transformação, de
intervenção no quotidiano, de atravessamentos na vida urbana, na vida pessoal e
por vezes no querer íntimo de uma política para um transporte público que
funcionasse de fato. Éramos até então vozes esperançosas à espera de trilhos.
Estruturalemente falando, quebrou-se a organização social
dos sujeitos, e se pensarmos no sentido
lógico desembocamos num grande celeiro da poética, a poética do acontecimento.
Tudo isso pôs-se reinventado numa nova lógica social, estética e também moral.
Esse foi o nosso legado.
O movimento de descontração e, principalmente
experimentação veio em forma de intervenção e reinvindicação. Ironicamente
questionamentos as rupturas causadas e deixadas pelas obras inacabadas.
O nosso movimento “VOZES LIVRES SOBRE TRALHAS” emerge em
meio a zona de catástrofe fazendo muitas vezes um paralelo entre política e
arte, desconsiderando que há dicotomia entre arte e vida. A reivindicação ética
foi além de tudo, contra o esquecimento do horror perpetuado coletivamente
contra nós.
Vivemos naquele momento realizações do cotidiano humano,
por meio da prática artística e da tentativa da arte em abrir caminhos e
possibilidades a partir do mundo ja construindo, experimentando o real e
readequando estruturas ja existentes para fazer arte, para ironizar, protestar,
questionar e pensarmos quantas possibilidades cabia a este espaço e que, de
alguma forma efetuam ligações e colocam em contato diferentes níveis de
realidade.
Praticamos de alguma forma a Estética Relacional, que nos
implica ser para além do ser, tanto na ética como nas interações humanas e que
neste momento coube colocar a ética antes do conhecimento e também a ética em
forma de arte. Nós sofremos uma transformação e tamém transformamos. Saimos da
observação externa nos iserimos coletivamente. Colaboramos uns com os outros,
integramos, colaboramos, criamos uma
comunidade com carácter temporário ou utópico, abrimos para todos e intervimos
nas obras malacabadas.
Tudo foi reinventado. As ruas serviram de desvios e
depois não mais. As obras inacabadas viraram grandes estruturas sem poder
social algum. Sofremos desvios momentâneos e depois nos readequamos. Tudo isso
em meses, em um gesto de preparação para a copa do mundo, em um gesto de
preparação para o caos.
O não dito está presente. Está nas obras, está na
revolta, está no caos. Agora em forma de intervenção, em forma de fotos, em
forma de arte.Referência:
BOURRIAUD, N. Estética relacional. Tradução Denise Bottmann. São
Paulo: Martins Fontes, 2009. 151 p.
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