sábado, 1 de agosto de 2015

O Preâmbulo: Refletir, Explorar

Luzia Arruda


Quando nos lançamos na aventura de uma intervenção urbana, na cidade de Cuiabá, nós mergulhamos numa série de reflexões e alguns devaneios, confesso. Mas, é exatamente nestes momentos que muitas ideias se frutificaram. Pensar a arte, a cultura, a cidade e suas subjetividades, os espaços foram exercícios  que nos fizeram escolher uma temática.
Foto: Heidy Medina


O inicio foi de exploração, de observar pela cidade possibilidades de intervenções e cada um, com seu olhar, trouxe sua sugestão, o vencedor foi o Veículo Leve sobre Trilhos, mas, por que o VLT? Permitam-me fazer uma breve contextualização.
Em Maio de 2009, doze cidades de uma lista que começou com 22 foram eleitas para sediar partidas do megaevento Copa do Mundo no Brasil 2014. A transmissão foi ao vivo pela TV aberta, direto das Bahamas, foi anunciada Cuiabá como a vencedora de um pseudo embate com a vizinha Campo Grande.
A Cuiabá provinciana, daria lugar a uma cidade nova, tudo muito novo, mundialmente visível. A jornada começou com demolições, escavações, desapropriações, revitalizações e, finalmente, o caos. Ruas e avenidas interditadas, desvios confusos, trânsito parado e a uma população resignada na esperança de que melhorias viriam e todos teriam que dar a sua parcela de sacrifício neste grandioso projeto de cidade. Não se ouvia buzinas, protestos e poucos ousavam levantar a voz para um projeto tão maravilhoso de cidade, tudo era para o bem comum, afinal de contas, a Copa estava tão perto. Cuiabá estaria entre as cidades mais modernas do Mundo, como a Alemanha e Escócia.

Edinburgh - Escócia - foto de Internet - domínio público

Berlim - Alemanha - Foto de Internet - domínio público



Nós, cuiabanos, de uma hora para outra, tivemos que incluir no nosso vocabulário palavras e expressões que qualquer arquiteto modernista invejaria: passagem de nível, sobreposição do córrego, alargamento do viaduto, dilatação, escavação, fissura, impermeabilização, inclinação, trincheiras, mobilidade urbana, moldal de transporte e VLT, ufa!!!!
A Copa passou. Parafrasenado Druommond: E, agora Cuiabá? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e, agora Cuiabá? Eram 52 obras de mobilidade prometidas até a Copa do Mundo de 2014 e apenas 8 foram concluídas, outras 44 continuam em andamento ou foram totalmente interrompidas, caso do VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, a obra mais cara e a mais esperada pela população. As obras tiveram inicio em 2012, já com atraso, no cronograma inicial constava a construção de duas linhas, somando 22,2km de extensão e 32 estações espalhadas pela cidade. Com um orçamento inicial que ultrapassou 1,4 bilhões de reais, o VLT já consumiu, cerca de 70% deste total, porém apenas 30% foi executado (Amorim, 2015). 

Vieram os escândalos de super faturamento, de falta de projetos, desvios,  corrupção, extinção de secretarias de estado, troca de governador e secretários e muitas outras acusações. Já se passou um ano e o que vermos é uma cidade ferida, dilacerada em suas artérias, suas veias estão expostas, tudo inacabado. A último cronograma de entrega divulgado pelo governo do estado prevê a conclusão do modal de transporte até 2018, e o que era para ser provisório, foi ficando, ficando, ficando... 

Voltando à nossa intervenção, todos tínhamos um grau de insatisfação, assim como toda população e este foi o motor de nossa ação. O projeto, numa intenção de transversalidade entre as práticas acadêmicas e artísticas, se desenvolveu em varias etapas, como se seguem:
A: discussões teóricas com base em textos acadêmicos e escolha de uma proposta de intervenção na paisagem urbana da cidade de Cuiabá. O escolhido foi uma intervenção nos trilhos por onde deveriam passar o VLT, modal de transporte que não foi concluído;
B:  Levantamento de dados sobre os locais passiveis de intervenção e registros fotográficos do trajeto do VLT, dos trilhos e das estações que deveriam estar em funcionamento, começando pela cidade de Várzea Grande, cidade onde se encontra a maior parte de toda obra construída até hoje; Visita in loco ao viaduto da UFMT, trecho mais próximo e viável para um intervenção, já que, não exigiria uma grande estrutura  logística;
C: Modificação física na paisagem:  confecção de painéis para ilustrar os trens do VLT, a bilheteria, além de balões, bolo, brigadeiro, chapeuzinhos, sombrinhas e uma vela gigante para simbolizar o primeiro aniversário do modal que não chegou;
D: A experiência artística na paisagem: descolamento por toda a extensão do viaduto com uma pequena fanfarra, sombrinhas e narizes de palhaço, depois uma parada para cantar os parabéns, compartilhar o bolo e os docinhos, além dos registros fotográficos;
E: Registro fotográfico “Vozes Livres sobre Tralhas” onde cada participante compartilharia o seu olhar sobre a experiência como “pequenas narrativas visuais” (Rey, 2010).


Fiquei responsável pelo levantamento fotográfico de como estava o VLT pela cidade.
Foi um processo de exploração e dei prioridade a cidade de Várzea Grande, onde estão grande parte das obras e onde mora minha mãe. Fui visitá-la e fiz os registros.Uma coisa leva a outra.
O que eu vi foi uma cidade feia, cheia de obras inacabadas, ferros expostos e enferrujados, buracos.

Fotos: Luzia Arruda



Várias das que seriam as estações inacabadas, abandonadas



Apenas uma estação acabada e olha a ironia, serve de ponto de ônibus...



Cada um teve uma missão: a) construção de  cenários com bilheteria e vagão, Gabriel (marcenaria, tintas), b) Muitos balões de aniversário, Sandro, c) Percussão, Ricardo, d) bolo de aniversário, Neuza, Entre outras ações.
Enfim, o grande dia chegou e todos reunidos, construímos passo-a-passo cada detalhe:

Fotos: Jan Moura, Bruna Obadowski, Raquel Mutzenberg, Heidy Medina




Veja como tudo aconteceu no post: VLT-Vozes livres sobre tralhas: espaço para produzir experiências artísticas http://vozeslivressobretralhas.blogspot.com.br/
E no post dos colegas, cada um com o seu olhar, num processo de compartilhamento de experiências e conhecimentos. Bom, esta foi a minha contribuição, colegas. Vamos compartilhar, comentar, incluir e alterar o texto,  Acho que o título pode ser melhorado, fiquem à vontade.Até a próxima!!!

p..s Gostei desse negócio de Blog.


Referências Bibliográficas

REY, Sandra. Caminhar: experiência estética, desdobramento digital. Revista Porto Arte: Porto Alegre, V. 17, Nº 29, Novembro/2010

AMORIM, Kelly. Obra polêmica, VLT de Cuiabá, no Mato Grosso, deverá ser entregue em setembro de 2018. 13/Maio/2015. Disponível em: http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/Transporte/obra-polemica-vlt-de-cuiaba-no-mato-grosso-devera-ser-346464-1.aspx Acesso em 21/07/2015.



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